quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O ASSASSINATO DA GAROTA DE IPANEMA

PRÓLOGO


Virgínia estava deitada de bruços no sofá da sala, onde ficara prostrada após a violenta discussão que tiveram. Aquilo passara dos limites. Não admitiria de maneira alguma em sua vida um homem que levantasse a mão para ela. Ele passara dos limites. Até aquele momento, não sabia como conseguira que ele fosse embora. Chegara a pensar o pior, em ter que pedir ajuda aos vizinhos, chamar a polícia, gritar por socorro. Era o fim. Não queria mais vê-lo nem pintado de ouro.
Pensava nisso quando ouviu passos atrás de si, sorrateiros como de um gato. “É ele de novo!”, pensou assustada. Ao perceber a aproximação, pulou célere do sofá e ficou de pé.
- O que você faz aqui? Quem te deu ordem de entrar? Eu vou chamar a polícia, seu cafajeste.
Antes que terminasse de falar, ele pulou em cima dela. 
Virgínia só teve tempo de arremessar-lhe um cinzeiro que avistara sobre a mesinha da sala e tentou correr para a porta do apartamento, mas ele impediu-lhe a passagem, cercando-a sem tirar os olhos enfurecidos dela, como um predador encara a sua vítima.
Ela correu para a varanda, jogando sobre ele o que encontrava ao alcance da mão. Até que se viu encurralada no parapeito de vidro que a separava da imensidão. Apavorada, não conseguiu gritar como pretendia. Por puro reflexo, ainda conseguiu aplicar-lhe uma joelhada que o acertou bem nos ovos. Imediatamente depois, sentiu um impacto fortíssimo no seu queixo que a arremessou violentamente contra o parapeito de vidro da varanda que se espatifou com o impacto do seu corpo. Antes que o sangue começasse a escorrer de sua boca com o maxilar quebrado, sentiu a dor de um corte profundo em suas costas e a falta de apoio para o seu corpo. Ela percebeu apavorada que não tinha em que se agarrar para evitar a queda, e a iminência da morte a desconcertou. A queda começou lenta e pareceu durar horas, em que toda a sua vida passou aceleradamente diante de seus olhos que não viam as janelas dos andares inferiores passarem vertiginosamente à sua frente.
O impacto foi surdo e Virgínia não sentiu a dor dos vários ossos que se quebraram ao mesmo tempo com a queda do 13º andar do seu prédio. Os olhos abertos davam ao seu rosto a mesma expressão de pavor, agora  congelada, que adquirira ao se dar conta de que mergulharia para a morte inapelável.
Lá em cima, seu assassino após alguma hesitação, saiu do apartamento como entrou, sem ser visto e sem deixar pistas.