domingo, 25 de novembro de 2007

Soneto da eternidade

Soneto da eternidade
Tenha certeza de que a amo muito
E sempre e tanto e com total afinco,
Mesmo às vezes, quando eu só brinco
Fique-lhe claro que não sou fortuito.
Quero vivê-la e tê-la e ser-lhe tudo
Agora e sempre, até que o corpo suma;
Unir então minh’alma à sua em uma
Mesmo depois que o tempo fique mudo.
O seu amor, motivo do meu canto,
Tem o poder de estancar o sangue
E me socorre quando a alma aderna.
Por ele caio, mas logo levanto;
Sinto-me forte, embora quase exangue:
É o elixir que me dá vida eterna.

Seu sorriso

Meu amor quando sorri
Muda o humor da cidade
Espalha aqui e ali
Um ar de felicidade
Seu sorriso é como a lua
Tem influencia em tudo
Vem e ilumina a rua
Até o ser mais sisudo
Seu sorriso é de criança
Quando ouve os meus chsites
Revela a sua esperança
Mesmo nos dias mais tristes
É expressão de amor
De carinho e simpatia
E alivia a minha dor
Tira-me a melancolia
Seu sorriso é espontâneo
Não escolhe dia ou hora
E resplandece instantâneo
Como o sol nasce com a aurora
Seu sorriso é como a luz
Que a escuridão descobre
É farol que me conduz
Por um caminho mais nobre

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Liberdade eterna

A poesia é livre como um náufrago numa ilha deserta.
Pode fazer tudo o que quiser, mas não tem a quem contar.
Se alguém não chega à ilha, o poema, para ouvir o que ele tem a dizer
Lá ficará para sempre, preso à sua liberdade eterna.
A poesia é um condenado que já cumpriu sua sentença, mas não deixa sua cela por não ter quem vá buscá-lo.
Podem prendê-lo em cárceres estéticos,
Amarrá-lo em correntes formais,
Exilá-lo em torres de marfim;
Nem assim o verso deixa de ser livre,
Porque ele escorre por entre as grades do poema
Quando alguém o lê. Dele se solta e sobe ao limbo
Onde a alma do leitor e a poesia encontram-se
Ambos libertos de seus calabouços, cárceres, celas – o corpo e o poema.
A poesia é o encontro de duas almas – a do poeta e a do leitor – sem que os dois saibam desse encontro.
A poesia é um pássaro, uma flor, um barco à vela; o poema, o céu, o jardim, o mar.

Gaveta

Enquanto espreme-se para sair
De lá do fundo um sentimento impresso,
Cava o poeta para exprimir
A lava interna que jorra no verso.

Os sentimentos movem-se na entranha
Prestes a entrar de um salto em ebulição;
E a palavra, essa via estranha,
Deve guiá-los à libertação.

Nem sempre chega ao papel bem quente
Como no interior incandescia
O sentimento - vício do poeta;

O que lhe sobra de calor se sente
Na cinza morna que a palavra fria
Embrulha e guarda dentro da gaveta.

Marília se fodeu

Eu, Marília, não sou um motorista
Que viva de guiar alheio carro;
Tenho próprio apê com bela vista
E uma janela da qual sempre escarro.

Dá-me casa-comida meu trabalho
E as calças jeans de que me visto;
Nem à novela das sete hoje eu assisto:
Ralo o dia inteiro pra caralho.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Eu me vi outro dia no banheiro,
E reconheço que estou acabado.
Os meus vizinhos reclamam do cheiro
Que exala livre do meu conjugado.

Só pode ser eu acho do cachorro
Que racha um pouco da ração comigo
Por ser talvez o meu último amigo
Que acode e sempre vem em meu socorro.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Já escrevi versos, letras e poemas,
Mas nada do que fiz foi para o prelo.
Meus sonhos se transformam em problemas
Porque o que faço só eu acho belo.

Amei à beça, sem correspondência
E desprezava a quem me queria;
Amar é fogo, quase uma ciência:
Mais fácil acertar na loteria.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Por isso, minha tão bela Marília,
Ouça com atenção o que proponho:
Casa comigo, formemos família,
Pra dar à vida uma feição de sonho.

Veja lá adiante o que faz a cadela
A amamentar zelosa o seu filhote.
Quero que faça assim igual a ela
Quando algum dos nossos der-lhe o bote.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Já que não queres, ó Marília bela,
Somar à minha pra sempre a alma,
Resta-me a morte, pois não posso tê-la
Para onde parto, sem perder a calma

Embrulho ou rasgo sonhos, sentimentos,
E vou aos poucos dando adeus à vida
Só meu cão vela os últimos momentos
Antes que venha a hora da partida.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A QUEM INTERESSAR POSSA

Que pode um verso neste mundo cão?
Em meio a tudo, a quem será que toca?
Anda nas ruas feito um ancião,
Em passos lentos, sem abrir a boca.

Que são poemas, a quem se destinam?
Ainda haverá no mundo quem os leia?
Onde estarão os que com ele se afinam
Em que a poesia escorre pela veia?

Versos são lágrimas mortas de abortos,
Sorrisos que nasceram natimortos,
Amores vãos, e ocultos pecados;

Só gostam deles os que na vida estão
Alheios e em outra dimensão:
Fora do tempo, em mundos separados.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Torcer pelo Botafogo!!!

Tarefa das mais árduas a que tenho,
Igual em força às do Heleno Herói;
Fustiga, açoita, insulta, arranha e dói
Como se no ombro houvesse o Santo Lenho.

Viver assim é como estar no inferno
Ou navegar num mar de desventuras;
Amar e derramar-se em mil juras
E ter de volta só desprezo eterno.

Assim é o amor que me definha
Após o fim de cada uma rodada:
Mais um fracasso no final do jogo.

Pior é que a tristeza que eu tinha
Um dia após já está cicatrizada
E eu torno a amar mais forte o Botafogo.

Madrugada fria

A lua semi-nova como guia
Clareava meu caminho lá do alto;
Atrás, a sombra – muda! – me seguia
A arrastar-se submissa no asfalto.

Para espantar o medo e o vento frio,
Cerrei em volta os braços por muralha
Do corpo. Que ambos davam-me arrepio
E me cortavam a alma qual navalha.

Sentia-me a mercê de algum mal súbito
Perigo aos que desafiam a madrugada
Que engana e esconde em sombra o ferro em brasa.

Já me via estirado em decúbito
Antes que se encerrasse essa jornada
E chegasse enfim a salvo a minha casa.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Meus olhos

Os meus olhos te engolem
E te falam mais que a fala
Tenho olhos tagarelas
E os lábios de bengala

Os meus olhos te abraçam
E te pegam descarados
Tenho olhos que são braços
E os meus braços vendados

Os meus olhos te perseguem
E te alcançam a mil léguas
Tenho olhos corredores
Mas as pernas estão cegas

O meu jeito mentiroso
Não esconde os meus fracassos
Pois meus olhos são sinceros
Mostram a alma em pedaços

Alcova eterna (leito inebriante)

Alcova eterna

O que é a morte enfim: é fim ou recomeço?
É ponte? É passo? É salto? É vôo? É tudo ou nada?
É precipício? É céu? É cais? Beco ou estrada?
Será que é nada mais que vida pelo avesso?
Quem é essa mulher que espreita e se insinua;
Atrai se é dos outros fugaz namorada,
Em quem ninguém resiste a dar uma espiada
Quando se oferece fácil, quase nua?
Libidinosa, lúbrica, insaciável,
Se leva à alcova eterna um, quer outro amante,
Por isso fogem dela como o diabo à cruz.
A não ser quando isso se torna inevitável.
Deitar-se-ão com ela em leito inebriante
Todos. Pra sempre enfim quando ela apaga a luz

sábado, 22 de setembro de 2007

Soneto pré-operatório!

Hemograma completo

De súbito, senti que a alma ia
Célere ao céu e ia o corpo ao óbito!
Sem forças já por causa da anemia
Que me empalidecia os hematócritos.

Mal me agüentava em pé não são falácias! –
Dormia sem querer a cada esquina!
Sem perceber, diluíam-se as hemácias
E o ferro fugia à hemoglobina.

A cada exame aumentava o drama
Que era pior a cada hemograma
E nada de se estancarem os danos.

Mas para descobrir qual era a gangue
Que andava á noite a me roubar o sangue
Restava ao médico olhar-me pelo ânus.

Soneto após derrota injusta do Botafogo!

Injustiça

Terreno fértil às injustiças é
O futebol. Nele a falta de sorte
Põe a perder num lance a glória e até
Leva à loucura, ao desespero, à morte.

Não basta ser um time o melhor:
Há que se ter fortuna e alguma ajuda
Divina, extra-campo, ou só
Um bandeirinha que sozinho muda

De um campeonato todo o resultado,
Ao não seguir a lei do impedimento,
Ou dar um pênalti que inexistiu.

Resta a quem perde a dor de ser lesado
Como eu confesso e grito: não agüento!
Vá, juiz, pra puta-que-o-pariu!

Outro soneto de CTI

Seiva bruta

O que é o ser humano sem a rica
Seiva que lhe cobre o corpo inefável
E a toda parte a vida comunica
E força leva a tudo incansável?

Como viver sem água? Assim, sem ela,
A vida perde a luta, e deixa a terra
(motor sem combustível, nau sem vela)
O corpo aos poucos perde o gás e emperra.

Já quase secos, agonizam os rios,
Encalham impotentes os navios –
Em redor espalham-se sinais da cruz

Assim é o corpo sem sangue, sem tinta –
Ele que com a cor da vida pinta
E ao homem são cobre com a sua luz.

domingo, 16 de setembro de 2007

Boas-vindas!

Amigos e leitores,
Neste espaço, emitirei opiniões diversas sobre assuntos que me interessam. Fiquem à vontade para palpitar - a favor ou contra! - a hora que quiserem.
Prazer em tê-los comigo já que este espaço é também seu.
Abraços,
Zé Arnaldo.