terça-feira, 6 de novembro de 2007

Marília se fodeu

Eu, Marília, não sou um motorista
Que viva de guiar alheio carro;
Tenho próprio apê com bela vista
E uma janela da qual sempre escarro.

Dá-me casa-comida meu trabalho
E as calças jeans de que me visto;
Nem à novela das sete hoje eu assisto:
Ralo o dia inteiro pra caralho.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Eu me vi outro dia no banheiro,
E reconheço que estou acabado.
Os meus vizinhos reclamam do cheiro
Que exala livre do meu conjugado.

Só pode ser eu acho do cachorro
Que racha um pouco da ração comigo
Por ser talvez o meu último amigo
Que acode e sempre vem em meu socorro.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Já escrevi versos, letras e poemas,
Mas nada do que fiz foi para o prelo.
Meus sonhos se transformam em problemas
Porque o que faço só eu acho belo.

Amei à beça, sem correspondência
E desprezava a quem me queria;
Amar é fogo, quase uma ciência:
Mais fácil acertar na loteria.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Por isso, minha tão bela Marília,
Ouça com atenção o que proponho:
Casa comigo, formemos família,
Pra dar à vida uma feição de sonho.

Veja lá adiante o que faz a cadela
A amamentar zelosa o seu filhote.
Quero que faça assim igual a ela
Quando algum dos nossos der-lhe o bote.

Graças, Marília bela
Graças à minha estrela.

Já que não queres, ó Marília bela,
Somar à minha pra sempre a alma,
Resta-me a morte, pois não posso tê-la
Para onde parto, sem perder a calma

Embrulho ou rasgo sonhos, sentimentos,
E vou aos poucos dando adeus à vida
Só meu cão vela os últimos momentos
Antes que venha a hora da partida.

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